A História das Cruzadas: um Caminho pela Liberdade

A História das Cruzadas: um Caminho pela Liberdade

Introdução

Ao longo dos séculos, a história das Cruzadas tem sido distorcida por diversos historiadores e críticos da Igreja Católica. Eles retratam as Cruzadas como fruto de uma mentalidade bárbara e irracional, ignorando o contexto de legítima defesa e a ameaça real que os cristãos enfrentavam. 

De fato, as Cruzadas representam um capítulo complexo da história, fazendo-se necessário uma imersão no contexto histórico, social e espiritual da época para compreender esse período. Sendo assim, as Cruzadas não foram apenas confrontos militares, mas também formaram a história cultural, científica e religiosa de ambos os mundos ocidental e oriental.

Com isso, o presente artigo busca mostrar ao leitor a real história das Cruzadas Medievais, que foram motivadas pela defesa da fé, o desejo de proteger locais sagrados e principalmente a busca pela verdade.

O que foram as Cruzadas?

As Cruzadas Medievais foram movimentos militares e religiosos que surgiram entre os séculos XI e XIII, para libertar a Terra Santa (principalmente Jerusalém) do domínio muçulmano. Perante isso, toda a sociedade se mobilizou e após anos de opressão, o Ocidente lutou com paixão e fervor, a fim de libertar a dita Terra Santa, ou seja, a terra em que Jesus viveu. Além disso, como bem colocado pela escritora Angela Pellicciari, as Cruzadas representam um fenômeno histórico extraordinário, especialmente do ponto de vista militar. Todos os cruzados partiam em nome da cruz, buscando merecer o Paraíso e expiar seus pecados através da caridade cristã. 

Para compreender melhor as cruzadas, é importante destacar o contexto histórico, a fim de se evitar certos anacronismos, como já alertava o historiador francês Marc Bloch. A Terra Santa por muitos séculos estava sob o domínio do Império Romano, sendo sucedido posteriormente pelo Império Bizantino. Ou seja, era originalmente uma região de maioria cristã, conquistada militarmente pelos islâmicos vindos da Península Arábica por meio da sua jihad. Portanto, a guerra santa cristã foi um movimento de defesa e reação contra a expansão totalitária e violenta da “guerra santa” muçulmana. Desse modo, quebra-se a visão enviesada e ideológica de que os cristãos iniciaram o conflito por simples capricho ou fanatismo religioso, mas sim um empreendimento de legítima defesa, uma guerra justa.

O movimento teve início em 1095, a partir do Concílio de Clermont, onde todos os cristãos foram convocados para libertar Jerusalém. Tal apelo foi feito pelo Papa Urbano II:

“Que vos inspirem e encorajem as proezas de vossos ancestrais e predecessores, a virtude e a grandeza do rei Carlos Magno e de Luís, seu filho, e dos demais vossos reis que destruíram os reinos dos pagãos e em tais regiões dilataram as fronteiras da Santa Igreja. Que vos motive sobretudo o Santo Sepulcro de Nosso Senhor Salvador, que está sob o domínio de uma gente imunda , bem como os lugares santos que hoje são tratados com desonra e que sem veneração […]“

Quais foram as Cruzadas?

Em 1096, aconteceu a Primeira Cruzada, perdurando até 1099. Nesse primeiro momento, católicos da França e do Sacro Império Romano-Germânico, liderados por Godofredo de Bulhão, reuniram-se em Constantinopla e conquistaram as cidades de Nicéia e Antioquia.

No ano de 1145, novos ataques muçulmanos ocorreram e desta vez, os católicos foram liderados por São Bernardo de Claraval. Figuras importantes participaram desse segundo momento, são elas o rei francês Luís VII e o rei do Sacro Império Romano-Germânico, Conrado III. Entretanto, em razão de divergências internas, houve uma derrota considerável.

Mais tarde, em 1189, sucedeu a Terceira Cruzada, mais conhecida como a Cruzada dos Reis, em razão da participação de Filipe II da França, Ricardo I da Inglaterra e Frederico Barbarossa do Sacro Império Romano-Germânico. Apesar da conquista de São João do Acre e da Ilha de Chipre, a morte de Frederico resultou no fracasso da tomada de Jerusalém. O lado positivo foi a realização de um acordo, que possibilitou a circulação dos fiéis em locais santos.

Posteriormente, em 1202, deu-se a Quarta Cruzada, onde o Papa Inocêncio percebeu a necessidade de retomar os territórios santos. Inicialmente, as tropas assaltaram a cidade de Zara, retirando-a do domínio dos húngaros e liberando a navegação no Mar Adriático. Após a primeira expedição, as tropas se concentram em Constantinopla, entretanto as tropas cristãs ficaram sem mantimentos e sem esperanças. As animosidades resultaram, por fim, num assalto cristão à Constantinopla e no saque da cidade.

A Quinta Cruzada aconteceu em 1217 e durou até 1221, onde o foco era atacar o centro de poder muçulmano no Egito. Conquistado esse primeiro objetivo, as tropas se concentrariam em recuperar Jerusalém. Entretanto, as tropas foram cercadas pelo território inimigo e ficaram sem mantimentos. Nesse momento, uma figura humilde se destacou: Francisco de Assis. Ele foi o homem que negociou com o sultão, garantindo uma trégua de oito anos com os egípcios.

Mais tarde, originou-se a Sexta Cruzada, onde a motivação dos soldados não era a salvação eterna, mas sim a obediência às ordens do imperador. Essa expedição não resultou em nenhum confronto, pois, o Imperador Frederico II conseguiu negociar com o sultão e a conversa resultou no Tratado de Jaffa. Após esse episódio, os cruzados não voltaram a ter o controle de Jerusalém.

Em 1248, manter um reino cristão em terras tão distantes e inóspitas aos europeus era realmente uma tarefa difícil. Tal empreitada era objeto da Sétima Cruzada, onde, outra vez, Jerusalém sucumbira ao ataque muçulmano. Todavia, os cruzados foram derrotados na Batalha de Mansura e as tropas cercadas. O resgate foi uma elevada quantia em ouro e a devolução de Damietta.

Já em 1260, os Mamelucos, um grupo altamente treinado de soldados turcos, liderados por Baibars, conquistaram diversas terras na região da Palestina. Tal acontecimento se deu na Oitava e última Cruzada. O espírito cruzado não conseguiu se manter firme na Europa, e em 1291, o último grande bastião dos cruzados na Terra Santa, o castelo de Acre, caiu. Apesar desse esmorecimento, diversos eventos que ocorreram após a oitava cruzada ainda carregavam a motivação de expandir a cristandade. Um destes eventos foram as navegações portuguesas.

Conclusão

As cruzadas fizeram surgir um carisma dentro da Igreja Católica, existente até hoje, mesmo que subaproveitado e escondido por diversos motivos, especialmente ideológicos. Era o da Cavalaria, a “força armada ao serviço da verdade desarmada”, como genialmente sintetizou o padre jesuíta argentino Alfredo Sáenz. Ela seria a virtude da fortaleza transformada em carisma, com frades cavaleiros, homens que combatiam espiritualmente e militarmente em prol do Reino de Cristo na Terra. Assim, muitas ordens de cavalaria foram fundadas, cada uma com sua especificidade: a Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém (1103); a Ordem Hospitalária, atualmente conhecida como Ordem de Malta (1113); a Ordem de Santiago (1175); a Ordem Teutônica (1190) e outras. 

Porém, a mais famosa delas no imaginário popular, provavelmente pelo seu fim trágico e mítico, foi a Ordem do Templo, isto é, a dos templários. Criada em 1118 sob o acompanhamento espiritual de São Bernardo de Claraval, cresceu em prestígio e poder, servindo a Igreja por muito tempo. Infelizmente, com a ambição e inveja dos poderes seculares, foi perseguida pelo rei da França, Filipe, o Belo. Ele seria o grande marco do início do absolutismo na Europa, como bem demonstrou Alexis de Tocqueville em seu clássico “O Antigo Regime e a Revolução”.

Diferentemente do resto da Europa, que perseguiu e conseguiu a extinção dos templários, o rei de Portugal, Dom Dinis, solicitou ao papa a sua continuação em seu reino. Atendendo ao seu pedido, criou-se em 1319 a Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, conhecida por Ordem de Cristo, herdando os cavaleiros e propriedades de sua predecessora. Na prática, mudara-se apenas o “nome fantasia”. Sua imponente sede era Tomar, onde até hoje turistas do mundo podem visitar.

A Ordem de Cristo tem uma importância primordial para a história do Brasil, pois foi ela quem financiou as grandes expedições marítimas portuguesas dos séculos XV e XVI (a cruz de Cristo nas caravelas é por isso). Eram, de fato, cavaleiros do mar. Desse modo, pode-se dizer que o nosso país foi fruto de um empreendimento iniciado séculos antes, com a Reconquista, isto é, as cruzadas ocorridas na Península Ibérica. Esse espírito cruzado, enérgico e intrépido, esteve igualmente presente na expansão por terra, fazendo com que a “Terra de Santa Cruz” ganhasse dimensões continentais. Não é à toa que a nossa primeira bandeira tenha a Cruz de Cristo em seu centro.

Por isso, enquanto formos brasileiros, estará presente em nós, mesmo que adormecido, esse espírito cruzado, o da Cavalaria, herdado de nossos antecessores ibéricos. Por isso ousamos dizer: ou o Brasil será católico ou não existirá. O tempo presente só nos mostra cada vez mais essa verdade. 


Angela

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.


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