Aspectos Destrutivos de Coletivismo em Green Book

Green Book

Green Book é um filme lançado em 2018 e dirigido por Peter Farrelly, mesclando drama e pitadas de comédia. Inspirado em uma história real de amizade improvável entre dois homens de origens distintas em um contexto de Estados Unidos da década de 1960.

O ator Viggo Mortensen interpreta Tony Lip, segurança ítalo-americano de Nova York, que é contratado como motorista de Don Shirley (interpretado por Mahershala Ali), um renomado pianista afro-americano, em uma perigosa turnê pelo sul segregado do país.

Enquanto enfrentam os desafios decorrentes do racismo e preconceito, Tony Lip e Don Shirley superam suas diferenças e constroem uma relação próxima, com Tony Lip questionando seus próprios preconceitos e reconhecendo a injustiça da segregação racial, ao passo que Don Shirley encontra em Tony Lip um amigo leal e confiável.

Green Book recebeu elogios da crítica e conquistou diversos prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Filme em 2019 e é descrito como um exemplo que aborda temas como amizade, tolerância, superação e a importância de enxergar além das diferenças.

Porém, aspectos relevantes acerca do coletivismo na história são por vezes negligenciados, sendo que apresentam de fato o grande empecilho de aproximação dos personagens durante grande parte da trama. 

Coletivismo

O coletivismo é uma corrente ideológica e filosófica que coloca ênfase na supremacia do grupo em relação ao indivíduo.

Está associado a doutrinas como o socialismo e o comunismo, com a defesa da coletivização da propriedade e o controle dos meios de produção, além da distribuição de renda. O Estado se torna o centralizador e regulador das atividades econômicas e demais estruturas de tomadas de decisão, impactando diretamente as escolhas dantes individualizadas.

Em contraposição encontra-se o individualismo, que valoriza a autonomia e os direitos individuais, a defesa da propriedade privada, da liberdade econômica e um Estado por vezes mínimo ou até descartável. 

Coletivismo nos EUA

Isabel Paterson escreveu:

Durante os últimos vinte e cinco anos, o coletivismo foi imposto a uma nação europeia após a outra. Durante esse período, melhorias consideráveis no maquinário foram feitas nos Estados Unidos. Alguma nação coletivista fez alguma melhoria no maquinário? Nenhuma. A coletividade nazista prometeu carros baratos aos trabalhadores alemães, que os trabalhadores americanos têm em quantidade cada vez maior há vinte e cinco anos. Algum carro barato foi produzido ou comprado por um trabalhador na Alemanha? Ou na Rússia? Ou no Japão? Nenhum. O padrão de vida aumentou em algum desses países? Não, caiu muito abaixo do nível do século dezenove.

Os EUA, conhecido por muitos como pioneiro na defesa das liberdades individuais, também apresenta fases sombrias em sua história, que deixou-se levar por diretrizes injustas e regadas à ignorância frente ao direito natural mais importante: a liberdade.

A segregação racial foi uma dessas fases, onde o Estado ditava o ir e vir dos cidadãos e ainda os classificava com base em elementos ilógicos de diferenças entre brancos e pretos. 

Conhecido como “Jim Crow”, a abrangência dessa segregação estendia-se a diversas esferas da vida cotidiana, como escolas, transportes públicos e banheiros, nos quais as leis segregacionistas negavam aos afro-americanos direitos equiparados.

Durante as décadas de 1950 e 1960, o movimento pelos direitos civis, liderado por figuras como Martin Luther King Jr., lutou contra a segregação e em prol da igualdade de direitos.  Por fim, houve a promulgação das leis de direitos civis em 1964 e 1965 que oficialmente proibiu a segregação racial, garantindo acesso igualitário e direitos políticos a todos os cidadãos.

Como diz Ayn Rand:

O racismo é a forma mais baixa e mais cruelmente primitiva de coletivismo. (…)

O racismo afirma que o conteúdo da mente de um homem (não seu aparato cognitivo, mas seu conteúdo) é herdado; que as convicções, caráter e valores de um homem são determinados antes de seu nascimento, por fatores físicos além de seu controle. Esta é a versão do homem das cavernas da doutrina das ideias inatas — ou do conhecimento herdado —, a qual tem sido completamente contestada pela filosofia e pela ciência. O racismo é uma doutrina de, por e para brutamontes. É uma versão de quintal ou de fazenda de gado do coletivismo, apropriada à mentalidade que diferencia várias raças de animais, mas não animais e homens.

No filme, é perceptível o quanto o racismo define o comportamento dos demais frente ao pianista da história, enaltecido ao tocar em casas de defensores da segregação e, ao passar pela porta, voltava a sua situação de rebaixamento social frente a sua cor de pele.

Por inúmeros momentos tinha de sair do recinto para utilizar o banheiro, se preparar e até se alimentar antes de uma apresentação, já que aquele ambiente não era permitido a pretos.

Ademais, mesmo tendo o dinheiro necessário para pagar um quarto luxuoso na época, Don Shirley dormia em hotéis com pouca qualidade, já que se recusava a repousar em um que não fosse bem-vindo. 

Não enquadramento 

Porém, o coletivismo não é apresentado apenas pelo racismo, ao que se refere ao filme. Um trecho esclarecedor é quando Tony Lip começa a questionar os gostos musicais e demais comportamentos apresentados pelo pianista. 

Isso porque, segundo ele, não eram comportamentos “da gente dele”, mesma situação que ele passou ao não apresentar comportamentos “típicos” dos italianos. Situações que ocorrem muito devido a esse pensamento coletivista e massificado em que o indivíduo precisa se enquadrar em um grupo e agir da mesma forma que os demais, desde vestimenta até pensamentos mais complexos. 

Eis que Don Shirley em certo ponto diz:

(…) Brancos ricos me pagam para tocar piano porque isso faz com que se sintam cultos! Mas assim que deixo o palco, volto a ser apenas mais um crioulo para eles, porque essa é a verdadeira cultura deles. E sofro sozinho porque não sou aceito pela minha própria gente, porque também não sou como eles. 

Então, se não sou preto o bastante, nem sou branco ou homem o bastante, então, diga-me, Tony, o que eu sou?

Ele confrontou críticas, já que sua formação erudita, interesse pela música clássica e estilo de vida sofisticado frequentemente o colocavam em conflito, não sendo plenamente aceito nem pela comunidade branca devido à sua cor de pele, nem pela comunidade negra devido à sua expressão e estilo de vida. 

Portanto, o filme demonstra como o coletivismo é prejudicial para o ser humano, que precisa lutar e vencer diversos obstáculos de todos os lado para demonstrar sua individualidade e se tornar grandioso naquilo que se compromete a fazer, neste caso, se tornando um grande pianista por parte de Don e um leal e íntegro amigo por parte de Tony.


Stephanie Teixeira

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição

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