2012, o Ano em Que o Mundo Acabou

Vivemos hoje, no Brasil e no mundo, tempos sombrios. No entanto, a polarização política e a guerra cultural fizeram com que nos tornássemos dessensibilizados a tudo isso. Então, para entendermos corretamente a situação em que estamos, vamos parar um pouco esse tempo e voltar o relógio para trás. Voltar para um tempo mais tranquilo, embora não menos apocalíptico. Voltemos ao ano de 2012.

O que foi o fenômeno 2012?

Todos que viveram os anos 2000 sabem da profecia de 2012, na qual o calendário maia marcaria o fim dos dias. Esse calendário teria início em 11 de agosto de 3114 a.C, ano em que a cultura maia acreditava ter sido o fim de um mundo anterior e o início do atual em que vivemos, terminando em 21 de dezembro de 2012. 

Conforme o ano de 2012 se aproximava, mais e mais teorias do fim cresciam, misturando-se com as profecias de Nostradamus e a teoria dos antigos astronautas (aliens como sendo os arquitetos das civilizações da antiguidade). Esse fenômeno daria luz ao filme de desastre “2012” nos Estados Unidos; mas poucos se lembram que o Projeto Portal, vila no interior do Mato Grosso do Sul onde foi filmado o ET Bilu, também surgiu por conta disso. O local inicialmente surgiu com um apelo ao paranormal, mas foi também atraindo pessoas preocupadas com o fim do mundo devido a mudanças climáticas. Localizado no centro do país e com estruturas projetadas para suportar fortes furacões, vendeu-se como um local onde poderiam se proteger do fim iminente.

É claro para nós, que vivemos em 2024, que o mundo não acabou em 2012. Ainda assim, queiramos ou não, este foi um ano que realmente marcou o fim de um ciclo e o início de outro.

Anos 2000: O Prelúdio do Fim?

A morte do papa João Paulo II em 2005 é uma das poucas memórias que ainda guardo de minha infância. O luto durou uma semana, e era incessantemente o tema de todos os canais de TV. Era uma época onde, segundo o IBGE, 73% dos brasileiros eram católicos, e isso se sentia. O estereótipo de pedofilia hoje atribuido aos padres ainda não era comum naquela época, e todos o viam quase unanimemente como um homem de Deus.

As famílias se organizavam em grandes clãs, se encontrando aos domingos para grandes almoços familiares, além de assistir corridas de fórmula 1 e jogos de futebol. Essa presença familiar era também sentida nas séries de ficção, onde a grande pergunta ao fim era sobre quem terminou com quem. Nem mesmo a saga Harry Potter escapou, com a autora detalhando com quem cada um dos personagens formou sua família. 

No quesito dos videogames, as coisas também eram mais simples: grande parte do público ainda eram crianças, então haviam muitos jogos como Mario e Megaman que seguiam uma temática mais “mocinho contra bandido”. Porém, começaram a surgir também os anti-heróis: personagens como Kratos, de God of War, que salvavam o mundo de forma imoral e antiética. Personagens complexos, cujas falhas os tornam interessantes.

E, guarde essa informação para mais tarde, havia na arquitetura prédios coloridos e criativos como os do McDonald ‘s em formato de casa.  

No campo da política, o Brasil começava os anos 2000 tendo se recuperado de todas as suas crises econômicas, enquanto o mundo vivia um período de otimismo devido ao término das tensões entre as superpotências da Guerra Fria. É sim verdade que os atentados de 11 de setembro dariam luz a uma nova era onde o inimigo era o terrorismo global, e que a crise de 2008 abalaria as estruturas econômicas do mundo, mas foi a geração seguinte que sentiu essas mudanças. A geração que cresceu em 2012.

Novo Ateísmo, Politicamente Correto, e o Início da Guerra Cultural

Junto com os anos 2000, também veio o Youtube, cuja primeira onda de influencers eram quase todos Novos Ateus. O Novo Ateísmo surgiu lentamente no pós 11 de setembro com as obras de Richard Dawkins, Sam Harris, Christopher Hitchens, Daniel Dennett, e Ayaan Hirsi Ali; e foi amplamente divulgado na internet brasileira da época por pessoas como PC Siqueira, Cauê Moura, e o grupo Porta dos Fundos (criado em, adivinha só? 2012).

O Novo Ateísmo é o que hoje se popularizou como “ateu chato”: aquele que não apenas não tem uma religião como também não acha que elas devam ser toleradas. Ele defende que sejam criticadas, contestadas, examinadas e desafiadas por argumentos racionais, especialmente quando exercem forte influência na sociedade em geral, como no governo, na educação e na política. Para eles, a própria existência da religião seria em si o motivo de todas as tragédias do mundo, sendo o mundo perfeito aquele onde a religião deixou de existir. 

O Deus do Antigo Testamento é talvez o personagem mais desagradável da ficção: ciumento e orgulhoso disso; um controlador mesquinho, injusto e implacável; um limpador étnico vingativo e sanguinário; um misógino, homofóbico, racista, infanticida, genocida, parricida, pestilento, megalomaníaco, sádico-masoquista, um valentão caprichosamente malévolo.”

– Richard Dawnkins

Chegamos então em 21 de dezembro de 2012, e nada mudou. Mas eu senti que alguma coisa aconteceu. Isso porque 2013 foi um ano em que muitos dos pais de meus amigos se divorciaram. É uma anedota, eu sei, mas uma que acaba por ser muito simbólica para o período. Afinal, os Vatican Leaks haviam acabado de acontecer, e o escândalo afetou moralmente a fé católica de uma forma da qual até hoje ela não se recuperou. 

Também foi em junho de 2013 que o povo tomaria as ruas em massa contra o aumento da passagem de ônibus de modo nunca antes visto na redemocratização. Manifestações essas que fizeram com que Pelé fosse em rede nacional pedir aos manifestantes que parassem, deixando de lado a violência para ficarem juntos em apoiar a seleção brasileira. Não deu certo. Mas seu pedido também simbolizaria a tentativa do Brasil antigo de resistir às mudanças que estavam acontecendo. Essa tentativa seria enfim sepultada com uma pá de cal em 2014, quando a nossa derrota para a Alemanha de 7 a 1 abalaria o amor pelo futebol brasileiro de um modo que até hoje ele não se recuperou.

Em algum momento de 2014, começaram a surgir nas universidades os movimentos progressistas identitários, à época chamados de “guerreiros da justiça social” (SJW), ou de politicamente corretos. Os progressistas identitários acreditam que o progresso está diretamente ligado às ideias de sua ideologia, ou seja, que os avanços tecnológicos ocorrerão mais depressa caso todos nós tenhamos as mesmas opiniões políticas “corretas”. Logo, todas as formas de entretenimento,  da vida comunitária, e até de nossas vidas privadas devem ser supervisionados pelos progressistas para garantir que apenas as “ideias corretas” estejam sendo discutidas. 

Eles se infiltraram no mundo dos jogos através do escândalo Gamergate, absorveram o Novo Ateísmo através do movimento Atheism+, e se catapultaram para a liderança da esquerda em reação à eleição de Trump e ao Brexit. Isso tudo também se manifestou parcialmente aqui no Brasil com a eleição de Dilma, na qual houve grande fortalecimento da pauta feminista e gradual crescimento do movimento LGBT. 

Com o governo Dilma, porém, viria a pior e mais aguda crise econômica da história do Brasil. E sim, ela conseguiu ser pior que a pandemia. Diversas empresas faliram, milhões perderam seus empregos, e aquele que viria a ser um dos maiores escândalos de corrupção do mundo foi descoberto. Essa crise levou a uma onda de direita e ao impeachment de Dilma em 2016. No entanto, a eleição de Bolsonaro em 2018 (e a tragédia que foi seu governo) deram à nossa esquerda um “Trump brasileiro” para a esquerda identitária crescer.

O identitarismo, porém, não era mais o mesmo. Tendo uma apoteose com a morte de George Floyd em 2020, seu domínio da cultura está praticamente completo. A esmagadora maioria dos filmes, quadrinhos, músicas, programas de tv, rádio, jogos, e propagandas de produtos no ocidente refletem hoje os dogmas do identitarismo, chamada lacração ou “cultura woke”.

Nesta nova fase, os progressistas identitários se tornaram muito parecidos com o Novo Ateísmo, vendo a sua própria cultura ocidental como um todo como sendo o motivo de todas as tragédias do mundo (oikofobia), e um mundo perfeito sendo aquele onde a cultura ocidental deixou de existir. Há um constante esforço para “desconstruir padrões”, e um desprezo por tudo aquilo que era naturalmente visto como padrão pela sociedade. 

Em outras palavras, os padrões e a tradição seriam preconceitos que teríamos aprendido inconscientemente, para a qual sua ideologia seria a opção ativa e racional por ser melhor do que isso. É em nome disso que militantes jovens corriqueiramente depredam obras de arte como a Mona Lisa, de arquitetura como a Fontana di Trevi, e até mesmo patrimônios imateriais como Stonehenge. Querem deixar o passado para trás, matando-o se necessário, para colocar em seu lugar suas próprias pautas políticas. 

No entanto, acabam cometendo erros do passado,  de modo que a história se repete  sem perceberem.

Um desejo incontrolável pelo passado

Há, na política, a seguinte frase: “quando o muro de Berlin caiu, qual foi mesmo o lado pro qual as pessoas fugiram”? A frase é simples, porém eficaz em tudo aquilo que ela condensa. Isso porque os comunistas durante a Guerra Fria eram profundamente estudados academicamente, e defendiam a União Soviética utilizando as mais complexas teorias sociais; mas nada disso se sustenta perante à legião de alemães da Berlim Oriental fugindo para o lado ocidental. Não existiu refutação maior ao comunismo do que as pessoas que viveram um regime comunista (na cidade mais vendida como símbolo do comunismo) fugindo para o lado capitalista. Não é uma refutação feita por argumentos acadêmicos, mas sim pela própria realidade.

Olhemos então para a nossa sociedade de 2024, onde o progressismo identitário ocupa todos os principais espaços da imprensa, da academia, e do entretenimento. Assim como as pessoas de Berlim Oriental fugiram em massa do regime capitalista, a população ocidental vem fugindo culturalmente do identitarismo, substituindo-o por entretenimentos antigos ou estrangeiros.

Não acredita? Quais são as séries mais assistidas? FRIENDS e The Office. Quais são os jogos mais jogados? Roblox, e Fortnite. Filmes? A saga Harry Potter. Jornalistas reportam cada vez como as pessoas estão preferindo o entretenimento antigo ao atual.

E a palavra certa aqui é “abandono”, pois os cinemas nunca estiveram tão vazios. Quando antes era esperado arrecadar no mínimo 100 milhões de dólares durante a estréia, quase nenhum filme chega a essa marca. Temos filmes como “As Marvels” e “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” competindo pelo recorde de maior prejuízo da história do cinema, enquanto o filme “Furiosa: Uma Saga Mad Max” teve tanto prejuízo que cancelou todos os novos filmes da franquia!

O que faz o caso de “Furiosa” tão importante é que foi muito bem avaliado tanto pela audiência quanto pelos críticos. Em outras palavras, é um bom filme! Mas nem a divulgação no boca a boca foi capaz de salvá-lo! Mesmo sendo bom, praticamente ninguém assistiu.

Mas isso não seria algo normal do pós pandemia? As pessoas estão indo menos ao cinema, certo? Bem… não. Acontece que esse abandono também é visto no mundo dos jogos e das séries, que podem ser consumidos em casa. Os jogos AAA modernos, como “Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça”, dão a seus estúdios prejuízos milionários; assim como as séries Star Wars: The Acolyte e a nova temporada de Dr. Who.

Também acontece que, enquanto isso, os conteúdos asiáticos (livres do identitarismo) continuam fazendo sucesso. Um excelente exemplo disso seria o das novelas coreanas, mas o caso mais simbólico para mim é o mangá de Demon Slayer vendendo, sozinho, mais do que todo o mercado de quadrinhos americanos junto. Sim. X-Men, Batman, Superman, Homem Aranha, Vingadores… todos eles JUNTOS não vendem mais do que um único mangá japonês. Mangá esse que já foi superado culturalmente por outros mangás como Jujutsu Kaizen.

E esse abandono não acontece apenas na cultura pop: entrando na pauta social, temos também o caso das Trad Wives, um movimento das mulheres tradicionais que se vestem como mulheres dos anos 50 e abandonam o mercado de trabalho para viverem como donas de casa. 

Note aqui uma nuance importante: não estamos falando de mulheres sendo impedidas de trabalhar fora pelos tabus da sociedade, mas sim de mulheres livres que estão ativamente abrindo mão de sua independência feminina. Pense o quão ruim deve estar o mundo hoje para haver mulheres preferindo abandonar os últimos 74 anos de conquistas femininas a ter de viver no que a sociedade está oferecendo agora. Será que este realmente é um mundo melhor?

2024, O Epílogo das Ruínas

Vivemos em 2024 num mundo onde a religião cristã deixou de ter a mesma importância na vida das pessoas. Ela permanece existindo no dia a dia, mas foi em grande parte secularizada para ser apenas um cumprimento de ritos. Além disso, a crença religiosa foi fragmentada ideologicamente: enquanto a direita brasileira se apega ao catolicismo ou ao protestantismo; a esquerda adota o ateísmo ou religiões de matriz africana. De repente, ser “religioso” virou uma categoria fora do padrão, assim como “atleta” ou “médico”. 

Poucas são as famílias que ainda se encontram aos domingos. Com a morte da antiga geração, esse costume não foi mais passado adiante, e as famílias agora encolheram apenas para o núcleo familiar. Poucos são os que se casam, e os números de divórcios estão altíssimos. A realidade do adulto normal hoje é, quando ele não continua morando com os pais, morar em casas minúsculas divididas com companheiros de quarto. Mais do que nunca, as pessoas estão sozinhas, solitarias, e depressivas. 

Nas obras de ficção, discutir a sexualidade dos personagens passou a ser um tema muito mais abordado do que quem terminou com quem. No quesito jogo, o anti-herói se tornou o padrão, com personagens morais e virtuosos passando a serem vistos como chatos. Grande parte dos jogos AAA ocidentais foca agora em passar a mensagem identitária: personagens de jogos antigos são mortos de maneiras humilhantes; personagens femininas são feitas de modo exageradamente andrógeno para evitar acusações de objetificação; e a mensagem identitária permanece onipresente.

Na arquitetura, popularizou-se substituir os prédios coloridos ou criativos por quadrados cinzas e desprovidos de qualquer vida, trazendo o ar de distopia para as cidades.

No campo da política, vivemos um colapso social como nunca antes visto, com a violência e favelização se tornando uma realidade por todo o mundo enquanto vivemos o retorno das guerras. Os progressistas identitários se apropriaram do termo democracia, alegando que quaisquer pessoas de esquerda ou direita fora de seus dogmas são fascistas ou antidemocráticos. Ironicamente, são os identitários que advogam pelo aumento da censura de seus adversários e pregam a violência contra adversários políticos. Eles não buscam mais encontrar um meio termo, pois passaram a considerar argumentos discordantes como ataques à sua existência.

Dessa vez, porém, não temos mais um Pelé representando o que eramos tentando nos trazer de volta. Pelé está morto, e o país estava dividido demais para chorar a sua morte. O herói nacional que merecia um luto tão unido e intenso quanto o de João Paulo II morreu aos sussurros, pois até mesmo a camiseta do Brasil que ele tanto amou foi cooptada pela política e perdeu seu significado. 

Por onde quer que eu olhe, o mundo onde eu cresci não existe mais. Alguns valores ainda se mantêm parcialmente no oriente, onde os identitários ainda não chegaram com força, mas são sociedades bem diferentes da antiga civilização ocidental. Quando eu olho para esse mundo tão degradado que vivemos hoje, a sensação que fica é a de que o mundo realmente acabou em 2012, mas fomos só nós que continuamos a viver nele depois disso.

Não é Nostalgia, é Realidade

Talvez algo que se passe para alguém que leia o meu texto é de estou apenas nostálgico com os anos em que cresci. Talvez o mundo sempre foi como foi e só eu fiquei rabugento. É um questionamento justo, afinal há também um pouco de nostalgia em minhas palavras. Entretanto, o destino do Novo Ateísmo é para mim uma prova de que não fui eu que mudou, mas sim o mundo.

Ayaan Hirsi Ali se converteu ao cristianismo em 2023. Ali viu o surgimento do autoritarismo de Putin, do fundamentalismo religioso muçulmano, e da ideologia progressista identitária como ameaças a civilização ocidental que a sociedade secular não está conseguindo vencer. Isso porque, segundo Ali, o Novo Ateísmo demoliu a religião mas foi incapaz de responder qual seria o sentido da vida. Como resultado, o que veio não foi a utopia de racionalismo que imaginavam, mas sim um vácuo de significado que foi ou preenchido por outras religiões, ou pelo radicalismo político. (em alguns casos, pelos dois). 

Surpreendentemente, a opinião de Ali é bem parecida com o que hoje defende Richard Dawkins (isso mesmo, aquele da citação acima). Apesar de ainda ser ateu e ver a queda da religião com bons olhos, ele hoje se declara como “culturalmente cristão”. Dawkins acredita que o fim do Cristianismo no Reino Unido ter levado ao crescimento do Islã em seu lugar seria um erro, pois argumenta que o cristianismo seria uma religião superior ao Islã na questão de direitos humanos. Ele diz estar contente com o fim do cristianismo, mas não gostaria que isso também desse fim às canções de natal e às grandes catedrais. Em outras palavras, o que Dawkins gostaria são as consequências de uma sociedade religiosa sem a religião que a mantinha. Gostaria dos fiéis sem a fé.

Estou falando disso para criticar os Novos Ateus e defender o cristianismo? Não. É mais profundo do que isso. Vivemos num mundo onde os Novos Ateus venceram e a religião deixou de ser parte fundamental da vida da maioria das pessoas. Eles prometeram que o resultado disso seria uma utopia movida pela razão caso a religião desaparecesse, e atuaram ativamente para eliminá-la do debate público. Ainda assim, não só a utopia prometida não veio, como o vácuo deixado resultou numa tragédia social tão grande que os fez fugir para o lado da sociedade cristã assim como os alemães fugiram com a queda do muro de Berlim. A realidade os provou errados.

O destino dos Novos Ateus hoje revela como será o futuro dos progressistas identitários no futuro. Afinal, esses “lacradores” pregam a mesma utopia do Novo Ateu caso consigam desconstruir todos os aspectos da sociedade. Mas basta comparar a vida da pessoa comum hoje com a de 2012 para perceber que a sociedade não está melhorando nem um pouco, e que os ocidentais estão se agarrando ao entretenimento antigo ou asiático para fugir desesperadamente desse inferno que vendem como perfeição.

E sim. Vale lembrar que a sociedade de 2012 tinha ainda muitos tabus e preconceitos que hoje eliminamos (que bom!). No entanto, basta consumir o conteúdo “lacrador” feito para “audiências modernas” que fica claro: nós apenas substituímos os velhos preconceitos por novos. A desconstrução dos conceitos não deu espaço para que novos conceitos corretos fossem formados, apenas reestruturou a sociedade de acordo com dogmas de raça, gênero, e sexualidade. A “imparável marcha do progresso” falhou pela segunda vez.

Aqui, entretanto, há uma nuance muito necessária: retroceder esse erro não significa regredir como sociedade para 2012. Primeiro porque tivemos avanços sociais importantes desde então que precisam ser mantidos, mas também porque é impossível. Afinal, como explicou o ex-KGB Yuri Bezmenov, essas mudanças são geracionais: a geração de agora já foi educada pelos identitários e a geração passada já morreu sem passar adiante seus valores. Os valores que perderam não voltam mais. Se voltarem, será daqui a uma, duas, ou mais gerações, redescobertos e misturados com o que veio antes. 

O que fazer então? Sentar e chorar? Não. Lembre-se que Mises também não viveu para ver o fim da União Soviética. É nosso dever lutar para que a bagunça identitária seja desfeita por meio da educação, e abrir o caminho para que as próximas gerações conquistem de volta aquilo que a nossa geração destruiu. Caso contrário, o mundo realmente terá acabado em 2012.


Paulo Grego

*As opiniões do autor não representam a posição do Damas de Ferro enquanto instituição.

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